Um "blog sujo" desde 2 de setembro de 2009.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Lula, o mito


"Existem pessoas que conseguem ascender socialmente. Em geral, saem da classe social baixa e se adaptam à nova classe. Deixam um lugar para ocupar outro. Mas com o Lula foi diferente: ele ocupa os dois lugares. Ele tem orgulho de ser o incluído e ao mesmo tempo o orgulho de ser o superexcluído. Isso dá um nó na cabeça da elite. Lula constrói espaço novo, a partir da comunicação direta com a população. Do ponto de vista simbólico, ele quebra paradigmas e modelos o tempo todo."
 
Denise Paraná, autora de "Lula, o Filho do Brasil"

A revolução no Egito está sendo internetizada

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Advogados da turma do ECAD caçam o Creative Commons

De Carta Maior

Sergio Amadeu: "Ana de Holanda e ECAD atacam política de Lula"

O movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma. O artigo é de Sergio Amadeu da Silveira.

Sergio Amadeu da Silveira (*)


Os defensores da indústria de intermediação e advogados do ECAD lançam um ataque a política de compartilhamento de conhecimento e bens culturais lançada pelo presidente Lula. Na sua jornada contra a criatividade e em defesa dos velhos esquemas de controle da cultura, chegam aos absurdos da desinformação ou da mentira.

Primeiro é preciso esclarecer que as licenças Creative Commons surgiram a partir do exemplo bem sucedido do movimento do software livre e das licenças GPL (General Public Licence). O software livre também inspirou uma das maiores obras intelectuais do século XXI, a enciclopédia livre chamada Wikipedia. Lamentavelmente, os lobistas do ECAD chegam a dizer que a Microsoft apóia o software livre e o movimento de compartilhamento do conhecimento.

Segundo, o argumento do ECAD de que defender o Cretaive Commons é defender grandes corporações internacionais é completamente falso. As grandes corporações de intermediação da cultura se organizam e apóiam a INTERNATIONAL INTELLECTUAL PROPERTY ALLIANCE® (IIPA, Associação internacional de Propriedade Internacional) e que é um grande combatente do software livre e do Creative Commons. O Relatório da IIPA de fevereiro de 2010 ataca o Brasil, a Malásia e outros países que usam licenças mais flexíveis e propõem que o governo norte-americano promova retaliações a estes países.

Terceiro, a turma do ECAD desconsidera a política histórica da diplomacia brasileira de luta pela flexibilização dos acordos de propriedade intelectual que visam simplesmente bloquear o caminho do desenvolvimento de países como o Brasil. Os argumentos contra as licenças Creative Commons são tão rídiculos como afirmar que a Internet e a Wikipedia é uma conspiração contra as enciclopédias proprietárias, como a Encarta da Microsoft ou a Enciclopédia Britânica.

Quarto, o texto do maestro Marco Venicio Andrade é falso até quando parabeniza a presidente Dilma por ter "restabelecido a soberania de nossa gestão cultural, anulando as medidas subservientes tomadas pelos que, embora parecendo modernos e libertários, só queriam mesmo é dobrar a espinha aos interesses das grandes corporações que buscam monopolizar a cultura". O blog do Planalto lançado pelo presidente Lula e mantido pela presidente Dilma continua com as licenças Creative Commons. Desse modo, os ataques que o defensor do ECAD fez a política dos commons lançada por Gilberto Gil, no MINC, também valem para a Presidência da República.

Quinto, o movimento de software livre, de recursos educacionais abertos e os defensores da liberdade e diversidade cultural votaram em Dilma pelos compromissos que ela afirmou em defesa do bem comum. No mesmo dia que a Ministra Ana de Holanda atacou o Creative Commons retirando a licença do site, a Ministra do Planejamento Miriam Belquior publicou a normativa que consolida o software livre como a essência do software público que deve ser usada pelo governo. É indiscutível o descompasso que a Ministra da Cultura tem em relação à política de compartilhamento do governo Dilma.

(*) Sergio Amadeu da Silveira é professor da UFABC. Sociólogo e doutor em Ciência Política. Foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e primeiro coordenador do Comitê Técnico de Implementação do Software Livre na gestão do presidente Lula.

Rede Globo envia helicótero sem blindagem para cobrir operação policial e quase provoca uma tragédia

 Helicóptero da Globo foi atingido com três tiros



Hoje pela manhã uma operação da Polícia Civil com mais de 150 policiais invadiu os morros da Mineira, no Catumbi, e do Zinco, São Carlos e Querosene, no Estácio. Houve intenso tiroteio. Uma equipe da Rede Globo, no helicóptero conhecido como Globocop, sobrevoava o local para conseguir imagens, quando foi atingida por disparos. Danificada, a aeronave, graças à habilidade do piloto, conseguiu chegar ao Aeroporto de Jacarepaguá e aterrissar sem vítimas. Felizmente, os três tiros não atingiram áreas críticas do helicóptero e o piloto conseguiu salvar-se e à equipe. Ou então estaríamos lamentando a morte de todos.

De quem é a responsabilidade? Dos traficantes? Da polícia, que invadiu o território deles? Ou da Rede Globo, que envia uma equipe num helicóptero sem blindagem (o da Polícia Civil que controlava a operação era blindado) a uma área conflagrada, mesmo sabendo que bandidos já derrubaram um helicóptero da polícia não blindado no Rio, no final de 2009?

Bom, aí teríamos mais um caso Tim Lopes, quando toda a culpa do acontecido caiu sobre os traficantes (cruéis assassinos de Tim), mas nada se falou sobre a responsabilidade da Rede Globo. A emissora deixou que o repórter voltasse ao Complexo do Alemão, embora seu rosto tenha sido exposto para todo o Brasil como o homem que ganhou o Prêmio Esso na categoria Telejornalismo,
com uma reportagem exibida no Fantástico denunciando o tráfico de drogas no... Complexo do Alemão.

Confira esses trechos que selecionei de uma entrevista com o jornalista Mario Augusto Jakobskind, na ocasião do lançamento de seu livro Dossiê Tim Lopes – Fantástico/Ibope, no final de 2003. A íntegra da entrevista, realizada por Ana Carolina Diniz, está aqui.



O que é o Dossiê Tim Lopes – Fantástico/Ibope? 
Mário Augusto Jakobskind – Trata-se de uma profunda investigação transformada em extensa reportagem que não caberia num espaço de jornal ou revista – e por isso é um livro reportagem – sobre um triste episódio de violência urbana ocorrido no Rio de Janeiro, em 2002, e que vitimou o repórter da TV Globo Tim Lopes. Dossiê Tim Lopes – Fantástico/Ibope mostra, através de pesquisas e depoimentos, o que levou ao assassinato por um bando de delinquentes vinculados ao tráfico de drogas. Há no livro um capítulo específico sobre o crime organizando que ajuda também a entender o caso Tim Lopes. Na época prevaleceu uma única versão – na prática, a versão oficial da maior emissora de TV do Brasil, tendo a mídia de um modo geral, com raras e honrosas exceções, omitido inúmeras questões, o que remete a um outro tipo de discussão.

Como assim?
 
M.A.J. – O caso Tim Lopes é um exemplo concreto de como funciona o esquema do pensamento único. Ou seja, através de um fato você apresenta ao leitor ou telespectador a "única verdade", simplesmente ignorando outros eventuais questionamentos que colocam em dúvida a versão oficial. Tendo como carro-chefe a Rede Globo, a opinião pública só foi informada sobre o assassinato de Tim Lopes no que interessava à emissora. Diretores da "Vênus Platinada" saíram em campo de uma forma avassaladora, vendendo a "verdade". Até mesmo na área sindical dos jornalistas, esses mesmos diretores, que antes da tragédia nunca chegaram a passar por perto da sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, que dirá entrar, participavam ativamente das mobilizações relativas ao episódio e de assembleias. A direção sindical, ao invés de se posicionar de forma isenta, aceitando pelo menos examinar as colocações que questionavam o procedimento da TV Globo, simplesmente fechou questão em torno da versão da emissora. Ficou parecendo que houve uma espécie de permuta, ou seja, transmitir a verdade da Globo em troca de cinco minutos de fama... Nunca o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro apareceu tanto na tela da Globo como a partir daquele episódio.

Como começou a história do caso que resultou no assassinato de Tim Lopes?
 
M.A.J. – A emissora designou Cristina Guimarães e Tim Lopes para fazerem reportagens sobre uma "feira de drogas" em favelas da cidade. Cristina cuidou da Rocinha e da Mangueira. Tim Lopes ficou encarregado do Complexo do Alemão, onde pouco tempo depois ocorreria o seu assassinato pelo bando chefiado por um tal de Elias Maluco. As reportagens foram ao ar, isso no segundo semestre de 2001, provocando grande indignação por parte dos traficantes porque muitos foram presos e o lucro do comércio ilegal foi afetado. Tim Lopes e Cristina Guimarães viraram um alvo dos narcotraficantes que queiram vingança. Cristina Guimarães passou a receber "recados" dos bandidos. Pediu proteção à Globo – não tendo, segundo ela, sido atendida. Em determinado momento, Cristina tomou a decisão de se proteger. Chegou até a sair do país e ao voltar ficou afastada do mercado de trabalho, o que acontece até hoje. A TV Globo nega a versão da jornalista e tentou a todo momento desqualificar a repórter.

Você acha que o Prêmio Esso recebido por Tim Lopes acabou selando a sentença de morte do jornalista?
 
M.A.J. – Tim Lopes foi o primeiro ganhador deste prêmio na categoria de telejornalismo. Ao receber o prêmio, em dezembro de 2001, a emissora em que trabalhava o apresentou publicamente em todos os noticiários. Uma das condições para quem faz jornalismo investigativo é se manter no anonimato. Quando sua imagem foi conhecida, a condição de jornalista investigativo deveria ser deixada de lado. Mas ele continuou e foi escalado para ir à Vila Cruzeiro, supostamente para cobrir um baile funk, onde, segundo a Globo, se praticava sexo explícito. A Globo diz que Tim Lopes apresentou a pauta, enquanto a viúva Alessandra Wagner garante que os planos dele eram deixar de lado as reportagens arriscadas, como a que foi escalado para fazer. O livro mostra tudo isso e apresenta também algumas contradições nos depoimentos de diretores da Globo, que uma hora falavam uma coisa e depois, outra. Quem ler com atenção os depoimentos e entrevistas vai verificar facilmente que muita coisa que foi dita não resiste a uma mínima análise. Posso dar um exemplo. Um dos diretores da Globo chegou a afirmar que um turista de Cuiabá viu a hora em que Tim Lopes foi "preso" pelos traficantes no baile funk, dando a entender até que teria filmado o momento. Pois bem: ele teria procurado a Globo e depois desapareceu como por encanto. Então, onde está este personagem que poderia ser uma figura-chave para o esclarecimento definitivo do caso? Ninguém sabe, ninguém cobrou a presença. Ficou tudo por isso mesmo. Por que então a TV Globo não apresentou essa testemunha que poderia ajudar a elucidar o episódio?
Há outros casos como esse apresentado no livro. Uma chefe de reportagem da regional carioca disse que Tim se apresentava na favela com um nome fictício de Ricardo. Já um dos diretores garantiu que Tim estava na favela como jornalista e a serviço da comunidade carioca. Quem ler Dossiê Tim Lopes – Fantástico/Ibope verá que outras tantas contradições existem, mas faltou talvez vontade política para se aprofundar o caso. Tanto se fala em jornalismo investigativo mas, nesse caso, perdeu-se uma grande oportunidade para a prática desse gênero.

Como surgiu a ideia de escrever o livro?
 
M.A.J. – Desde o início acompanhei o caso e justamente tive a atenção despertada pelo procedimento incomum da direção da Globo. No primeiro ato público dos jornalistas cariocas, antes mesmo de se confirmar a morte de Tim Lopes, um dos jornalistas contestou o que se colocava nos discursos tirando qualquer responsabilidade da TV Globo no caso. Não precisava ser nenhum gênio, ou super repórter, para perceber que havia algo errado. Este mesmo jornalista, Osvaldo Maneschy, foi praticamente impedido de falar numa assembleia sindical. Cristina Guimarães foi "linchada" e apresentada como maluquete ou porra-louca, quando o único "crime" que cometia era o de contar o que tinha acontecido com ela e questionar uma verdade que isentava a Globo de culpa. Pouco a pouco fui aprofundando o tema. Colhi vários depoimentos e li muita coisa sobre o caso Tim Lopes. Silenciar ou deixar correr sem reunir as informações que obtive seria um verdadeiro desserviço ao jornalismo. Jornalistas que procuram estar bem com as suas consciências não podem omitir esses fatos, mesmo que encontrem dificuldades para divulgá-los.

No final do ano passado, logo após a polícia ter retomado o Complexo do Alemão, a mãe de Tim Lopes declarou, em reportagem publicada pelo Terra:

"Foi uma injustiça muito grande o que fizeram com meu filho. mandaram-no para a favela se virar sozinho, sabendo do risco que corria."

A presidenta do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro Suzana Blass, na mesma reportagem do Terra, disse que "A chefia de reportagem da TV Globo não avaliou os riscos antes de permitir que Tim viesse para o Alemão. Foi muito ingênua, não teve a dimensão do perigo".

E agora, o que o Sindicato tem a dizer sobre o incidente com o Globocop? Ou será preciso uma nova morte?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Os Nardoni do Rio de Janeiro (ou protegidos da Globo??)

Acabei de tomar conhecimento do caso da menina Joanna através do ótimo blog Táxi em Movimento


Infelizmente, mais uma vez a mídia demonstra a sua parcialidade.. 

 

Para O Globo, a menina morreu de meningite, e o caso não teve 0,1% da repercussão do caso dos Nardoni.. essa mídia não pode se arvorar o título de Quarto Poder porque não tem a mínima isenção para exercer qualquer função pública

 

Será que poderemos colocar o Poder Judiciário, o falso médico, o pastor evangélico, o ex-deputado do PT, Antônio Carlos Biscaia, defensor dos direitos humanos dos outros, psicólogas e membros do Ministério Público no banco dos réus??

 

Entre todos esses, não houve uma alma sensata que pudesse evitar o homicídio da criança..

 

Encontrei os seguintes textos na internet e os editei à minha maneira.. quem quiser pode fazer sua própria pesquisa no google.


 

 Da ISTOÉIndependente


A triste história da morte de uma menina de 5 anos, vítima da briga dos pais, do Poder Judiciário e de um falso médico

Eliane Lobato
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FIM
Joanna era uma garota saudável que adorava a Branca de Neve. Foi enterrada com sua fantasia favorita


“Toda mãe sonha ver o nome do filho em um diploma. Infelizmente, eu vi o nome da minha filhinha num atestado de óbito.” As palavras, entremeadas por choro, saem da boca de Cristiane Cardoso Marcenal, mãe de Joanna Marcenal Marins, que morreu na sexta-feira 13 de causa ainda não definida (o laudo ficará pronto em um mês, aproximadamente) e com o corpo cheio de escoriações, queimadura e cortes. A mãe chora pela perda da filha, de 5 anos, e pelo futuro que nunca virá. “Não vamos comemorar sua formatura, não teremos o prazer de brincar na neve, como ela tanto queria, não terei netos dela. Não sei como vou conseguir continuar vivendo”, diz Cristiane, muito emocionada. A garotinha que calçava sapatinhos cobertos por paetês e dormia em uma cama com dorsel feito pela avó materna para que se sentisse uma princesa, foi enterrada com seu vestidinho preferido, o de Branca de Neve. “Fiz questão de vestir minha filha com a roupinha que mais amava”, diz a mãe, destroçada diante da irreversibilidade da morte.

Agora, Joanna virou um processo na Justiça, já com mais de 200 páginas. Está em apuração se ela sofreu maus-tratos enquanto estava sob a guarda paterna, a causa da morte e de quem é a responsabilidade – entre pai, mãe e Poder Judiciário. A menina foi a parte mais fraca da briga de gente grande à sua volta. E pagou com a vida por isso. Sua curta história envolve animosidade entre os pais, boletins de ocorrência policial por espancamento entre o pai biológico e a madrasta e também da mãe contra o pai biológico por maus-tratos contra a própria filha. A menina ainda teve mais uma infelicidade: ao ser levada desacordada para a emergência do hospital RioMar, na Barra da Tijuca, no dia 19 de julho, foi atendida por um falso médico, o estudante de medicina Alex Sandro de Cunha Souza, 33 anos, atualmente foragido. Liberada, ela passou mal de novo e, quando voltou à outra emergência, de outro hospital, já mergulhara no coma que durou quase um mês.

As desavenças em torno de Joanna começaram antes de seu nascimento. Seus pais, o advogado e técnico judiciário André Rodrigues Marins, 41 anos, e a médica Cristiane, 37, são evangélicos e se conheceram em 2003 numa Igreja Batista, no Recreio, bairro no qual ambos moravam, no Rio de Janeiro. Namoraram por aproximadamente seis meses. Quando o relacionamento acabou, Cristiane estava grávida, mas não sabia. O casal nunca chegou a viver junto. André não gostou de saber que seria pai. Cristiane resolveu que assumiria sozinha a criança. Nessa época, André mostrou seu temperamento explosivo e pela primeira vez bateu em Cristiane. “Ele me ligou, disse que ia se matar, falou um monte de coisas, pediu para eu ir à casa dele. Fui. Quando cheguei lá, me surrou, apesar de eu estar grávida.” Procurado por ISTOÉ, André não respondeu às ligações. Seu advogado, Luiz Guilherme Vieira, disse que ninguém da parte dele falaria sobre o caso. E arrematou: “O André sofreu muito com o processo de internação e agora com o luto pela morte da menina.”
Quando a garota nasceu, em outubro de 2004, a mãe avisou-o e ele foi conhecê-la. Nessa época, ele já estava casado com a atual mulher, Vanessa Maia Furtado, então grávida do primeiro filho. Nos dois primeiros anos de vida, Joanna praticamente não viu o pai. Em março de 2007, Cristiane se casou com Ricardo Tostes, 46 anos, pastor da igreja Batista, e André reapareceu logo depois. “Ele pegava a filha num fim de semana, sumia três, aparecia depois”, afirma a mãe. Até que, em 14 de outubro do mesmo ano, aconteceu um fato novo – e policial.

 
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DOR
Cristiane, a mãe, e Ricardo, o padrasto: devastados com a perda e revoltados com a Justiça


Neste dia, Joanna voltou da casa de André machucada, segundo a mãe, fato comprovado por laudo do Instituto Médico Legal. Primeiro, Cristiane levou-a a um hospital perto de casa, a Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Nova Iguaçu. No prontuário, a médica plantonista sugere que seja feito exame de corpo de delito. Todo o episódio foi documentado na delegacia e levado para a juíza Cláudia Nascimento Vieira, da 1ª Vara de Família de Nova Iguaçu. Ela proibiu a visitação do pai biológico até que se apurasse a suspeita de maus-tratos. Dois meses depois, em janeiro de 2008, devolveu os direitos de visita a André. Mas, segundo depoimentos de conhecidos da família que pedem para não ser identificados, ele novamente sumiu. Ricardo, o padrasto de Joanna, entrou, então, com pedido de adoção e obteve a guarda da menina. André nunca questionou ou reclamou disso. “A Joaninha era como uma filha para mim”, disse Ricardo.


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Em dezembro de 2009, André reapareceu e os enfrentamentos voltaram. Em fevereiro deste ano, ele conseguiu a reversão da guarda, dada pela mesma juíza Cláudia, que também proibiu a mãe de fazer qualquer contato com a menina durante os 90 dias em que ela ficaria com o pai. A juíza baseou-se no laudo das psicólogas Roberta M.N.Ferreira de Carvalho e Vânia Sueli Mafra Aniz, da mesma Vara de Família, alegando alienação parental (quando um dos pais joga o filho contra o outro). Assim, a menina saiu chorando desesperadamente do colo da mãe, e foi entregue ao pai no dia 26 de maio. Foi a última vez que a mãe viu a filha com saúde. Embora André tenha dito que a filha fora entregue com problemas, a babá de Joanna, Maria Aparecida de Andrade Brandão, declarou, em depoimento, que deu “o último banho na menina antes de ser entregue ao pai e que a criança não tinha nenhuma marca no corpo”.


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VIOLÊNCIA
Vanessa, a madrasta, e André, o pai, colecionam episódios de agressão,
devidamente registrados em delegacias
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“Quando vi o laudo das psicólogas, achei que era retaliação porque eu reclamara na Corregedoria que elas tinham me tratado de forma hostil”, diz Cristiane. “Depois, me lembrei que o André dizia ter uma tia promotora e que ela ‘iria dar um jeito’.” André é sobrinho de Maria Helena Biscaia, mulher do ex-deputado federal Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). “Não sei se ele usava o nome deles indevidamente”, diz Cristiane. A mãe se revolta ao questionar o Judiciário: “Não ouviram a Joanna, não ouviram minha família, só os pais dele e a mulher dele.” Isso, apesar de haver boletins policiais relatando a violência de André e Vanessa, a madrasta de Joanna. Num deles, André diz que a mulher tinha quebrado uma cadeira em sua cabeça porque não queria que Joanna fosse para a casa deles. Em outro, Vanessa conta que, ainda grávida, teria levado socos de André. Há também, segundo Cristiane, outro registro policial de agressão de André contra sua primeira mulher, Gleide Abreu Afonso (ex-Marins).

“Essa juíza disse que não tinha nada no processo desses boletins. Me deu nojo, me deu vontade de vomitar”, diz Cristiane, novamente aos prantos. Ela recorda sua última conversa com Joanna. “Eu disse a ela: ‘Filha, a juíza ordenou que você tem que ficar com papai André por 90 dias. Depois, a mamãe pega você de novo, tá?’ Ela disse: “Não chora mais, mamãe. Agora você vai ficar com dois filhinhos só porque ele falou pra mim que não volto mais.” Cristiane tem mais dois filhos do casamento com Ricardo. “Joanna foi vítima do Judiciário. A juíza a tirou de dentro de casa e entregou-a para ser morta”, disse ela.

O resto, todos já sabem. O pai diz que a menina teve crises convulsivas devido a problemas neurológicos. Mas o pediatra da garota, Vanderlei Porto, nega: “A Joanna sempre foi supersaudável e normal. Ela nunca teve convulsão e não tomava remédio anticonvulsivo.” Da mesma forma, a professora da menina, na escola Objetivo, de Campos do Jordão (SP), descarta qualquer distúrbio emocional ou físico. “Ela nunca teve nada. Se tivesse algum problema, não seria possível esconder da escola, onde passava tanto tempo”, disse à ISTOÉ a professora Luciana de Oliveira Santos.


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CRIME
O falso médico Alex Sandro de Cunha Souza, que atendeu Joanna
quando ela chegou desacordada ao hospital e a liberou

A mãe diz ter sido informada pelo delegado Luiz Henrique Marques Pereira, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), que, no depoimento, André relatou que a filha se autoflagelava. “Tanto que ele pôs luva nela, passou fita crepe na luva e amarrou as mãozinhas na cama para que não se machucasse. Como pôde fazer isso?”, questiona Cristiane. Médica, ela também não consegue aceitar que a filha tenha sido atendida por um falsário. “A Joanna passou pelas mãos de um cara que não era médico. Isso não teria acontecido se o pai tivesse me ligado. Eu teria arrumado um médico decente para cuidar dela”, chora. E reza: “Só Deus para me ajudar a sobreviver agora. Deus e minha família.”

Colaborou Luciani Gomes




 

Seguem algumas reportagens a este respeito:
 
1 - SRZD | Caso Joanna Marins: a segurança da infância no CTI ...
26 jul. 2010 ... Logo depois, acompanhada pelo padrasto, Joanna Cardoso Marcenal Marins foi entregue ao pai, André Rodrigues Marins, na 5ª Vara de Família da ...
2 - Menina com hematomas no corpo não teve morte cerebral, diz médico ...
22 jul. 2010 ... A mãe da menina, a médica Cristiane Cardoso Marcenal Ferraz, acusa o pai de Joanna, o advogado André Rodrigues Marins, de maus tratos. ...
3 - Anjos e Guerreiros: Delegado diz que menina de cinco anos foi ...
24 jul. 2010... hematomas e a queimadura nas nádegas da menina Joanna Cardoso Marcenal Marins, de 5 anos, já tem certeza de que ela sofreu maus-tratos. ...
4 - Médico diz que menina de cinco anos internada no Rio de Janeiro ...
21 jul. 2010 ... A mãe de Joanna Cardoso Marcenal Marins, a médica Cristiane Cardoso Marcenal Ferraz, diz que o ex-marido e pai de Joanna, o advogado André ...
5 - Criança de 5 anos vítima de maus tratos, em coma


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma coisa estranha aconteceu na noite passada em Natal (Miguel Nicolelis)



por Miguel Nicolelis*, especial para o Viomundo

Desde que cheguei ao Brasil, há duas semanas, eu vinha sentindo uma sensação muito estranha. Como se fora acometido por um ataque contínuo da famosa ilusão, conhecida popularmente como déjà vu, eu passei esses últimos 15 dias tendo a impressão de nunca ter saído de casa, lá na pacata Chapel Hill, Carolina do Norte, Estados Unidos.

Mas como isso poderia ser verdade? Durante esse tempo todo eu claramente estava ou São Paulo ou em Natal. Todo mundo ao meu redor falava português, não inglês. Todo mundo era gentil. A comida tinha gosto, as pessoas sorriam na rua. No aeroporto, por exemplo, não precisava abrir a mala de mão, tirar computador, tirar sapato, tirar o cinto, ou entrar no scan de corpo todo para provar que eu não era um terrorista.  Ainda assim, com todas essas provas evidentes de que eu estava no Brasil e não nos EUA, até no jogo do Palmeiras, no meio da imortal “porcada”, a sensação era a mesma: eu não saí da América do Norte! Mesmo quando faltou luz na Arena de Barueri durante o jogo, porque nem a 25 km da capital paulista a Eletropaulo consegue garantir o suprimento de energia elétrica para um prélio vital do time do coração do ex-governador do estado (aparentemente ninguém vai muito com a cara dele na Eletropaulo. Nada a ver com o Palmeiras), eu consegui me sentir à vontade.

Custou-me muito a descobrir o que se sucedia.

Porém, ontem à noite, durante o debate dos candidatos a Presidência da República na Rede Record, uma verdadeira revelação me veio à mente. De repente, numa epifania, como poucas que tive na vida, tudo ficou muito claro. Tudo evidente. Não havia nada de errado com meus sentidos, nem com a minha mente. Havia, sim, todo um contexto que fez com que o meu cérebro de meia idade revivesse anos de experiências traumatizantes na América do Norte.

Pois ali na minha frente, na TV, não estava o candidato José Serra, do PSDB, o “partido do salário mais defasado do Brasil”, como gostam de frisar os sofridos professores da rede pública de ensino paulistana, mas sim uma encarnação perfeita, mesmo que caricata, de um verdadeiro George Bush tropical. Para os que estão confusos, eu me explico de imediato. Orientado por um marqueteiro que, se não é americano nato, provavelmente fez um bom estágio na “máquina de moer carne de candidatos” em que se transformou a indústria de marketing político americano, o candidato Serra tem utilizado todos os truques da bíblia Republicana. Como estudante aplicado que ainda não se graduou (fato corriqueiro na sua biografia), ele está pronto para realizar uns “exames difíceis” e ser aceito para uma pós-graduação em aniquilação de caracteres em alguma universidade de Nova Iorque.

Ao ouvir e ver o candidato, ao longo dessas duas semanas e no debate de ontem à noite, eu pude identificar facilmente todos os truques e estratégias patenteados pelo partido Republicano Americano. Pasmem vocês, nos últimos anos, essa mensagem rasa de ódio, preconceito, racismo, coberta por camadas recentes de fé e devoção cristã, tem sido prontamente empacotada e distribuída para o consumo do pobre povo daquela nação, pela mídia oficial que gravita ao seu redor.

Para quem, como eu, vive há  22 anos nos EUA, não resta mais nenhuma dúvida. Quem quer que tenha definido a estratégia da campanha do candidato Serra decidiu importar para a disputa presidencial brasileira tanto a estratégia vergonhosa e peçonhenta da “vitória a qualquer custo”, como toda a truculência e assalto à verdade que têm caracterizado as últimas eleições nos Estados Unidos.  Apelando invariavelmente para o que há de mais sórdido na natureza humana, nessa abordagem de marketing político nem os fatos, nem os dados ou as estatísticas, muito menos a verdade ou a realidade importam. O objetivo é simplesmente paralisar o candidato adversário e causar consternação geral no eleitorado, através de um bombardeio incessante de denúncias (verdadeiras ou não, não faz diferença), meias calúnias, ou difamações, mesmo que elas sejam as mais absurdas possíveis.

Assim, de repente, Obama não era mais americano, mas um agente queniano obcecado em transformar a nação americana numa república islâmica. Como lá, aqui Dilma Rousseff agora é chamada de búlgara, em correntes de emails clandestinos. Como os EUA de Bill Clinton, apesar de o país ter experimentado o maior boom econômico em recente memória, foi vendido ao povo americano como estando em petição de miséria pelo então candidato de primeira viagem George Bush.

Aqui, o Brasil de Lula, que desfruta do melhor momento de toda a sua história, provavelmente desde o período em que os últimos dinossauros deixaram suas pegadas no que é hoje o município de Sousa, na Paraíba, passa a ser vendido como um país em estado de caos perpétuo, algo alarmante mesmo. Ao distorcer a verdade, os fatos, os números e, num último capítulo de manipulação extremada, a própria percepção da realidade, através do pronto e voluntário reforço  do bombardeio midiático, que simplesmente repete o trololó do candidato (para usar o seu vernáculo favorito), sem crítica, sem análise, sem um pingo de honestidade jornalística, busca-se, como nos EUA de George Bush e do partido Republicano, vender o branco como preto, a comédia como farsa.

Não interessa que 26 milhões de brasileiros tenham saído da miséria. Nem que pela primeira vez na nossa história tenhamos a chance de remover o substantivo masculino “pobre” dos dicionários da língua portuguesa. Não faz a menor diferença que 15 milhões de novos empregos tenham sido criados nos últimos anos. Ou que, pela primeira vez desde que se tem notícia, o Brasil seja respeitado por toda a comunidade internacional. Para o candidato da oposição esse número insignificante de empregos é, na sua realidade marciana, fruto apenas de uma maior fiscalização que empurrou com a barriga do livro de multas 10 milhões de pessoas para o emprego formal desde o governo do imperador FHC.

Nada, nem a realidade, é  capaz de impressionar os fariseus e arautos que estão sempre prontos a enxovalhar o sucesso desse país de mulatos, imigrantes e gente que trabalha e batalha incansavelmente para sobreviver ao preconceito, ao racismo, à indiferença e à arrogância daqueles que foram rejeitados pelas urnas e vencidos por um mero torneiro mecânico que virou pop star da política internacional. Nada vai conseguir remover o gosto amargo desse agora já fato histórico,  que atormenta, como a dor de um membro fantasma, o ego daqueles que nunca acreditaram ser o povo brasileiro capaz de construir uma nação digna, justa e democrática com o seu próprio esforço. Como George Bush ao Norte, o seu clone do hemisfério sul não governa para o povo, nem dele busca a sua inspiração. A sua busca pelo poder serve a outros interesses; o maior deles, justiça seja feita, não é escuso, somente irrelevante, visto tratar-se apenas do arquivo morto da sua vaidade, o maior dos defeitos humanos, já dizia dona Lygia, minha santa avó anarquista. Para esse candidato, basta-lhe poder adicionar no currículo uma linha que dirá: Presidente do Brasil (de tanto a tanto). Vaidade é assim, contenta-se com pouco, desde que esse pouco venha embalado num gigantesco espelho.

Voltando à estratégia americana de ganhar eleições, numa segunda fase, caso o oponente sobreviva ao primeiro assalto, apela-se para outra arma infalível: a evidente falta de valores cristãos do oponente, manifestada pela sua explícita aquiescência para com o aborto; sua libertinagem sexual e falta de valores morais, invariavelmente associada à defesa do fantasma que assombra a tradição, família e propriedade da direita histérica, representado pela tão difamada quanto legítima aprovação da união civil de casais homossexuais. Nesse rolo compressor implacável, pois o que vale é a vitória, custe o que custar, pouco importa ao George Bush tupiniquim que milhares de mulheres humildes e abandonadas morram todos os anos, pelos hospitais e prontos-socorros desse Brasil afora, vítimas de infecções horrendas, causadas por abortos clandestinos.

George Bush, tanto o original quanto o genérico dos trópicos, provavelmente conhece muitas mulheres do seu meio que, por contingências e vicissitudes da vida, foram forçadas a abortos em clínicas bem equipadas, conduzidas por profissionais altamente especializados, regiamente pagos para tal prática. Nenhum dos dois George Bushes, porém, jamais deu um plantão no pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo e testemunhou, com os próprios olhos e lágrimas, a morte de uma adolescente, vítima de septicemia generalizada, causada por um aborto ilegal, cometido por algum carniceiro que se passou por médico e salvador.

Alguns amigos de longa data, que também vivem no exterior, andam espantados com o grau de violência, mentiras e fraudes morais dessa campanha eleitoral brasileira. Alguns usam termos como crime lesa pátria para descrever as ações do candidato do Brasil que não deu certo, seus aliados e a grande mídia.
Poucos se surpreenderam, porém, com o fato de que até o atentado da bolinha de papel foi transformado em evento digno de investigação no maior telejornal do hemisfério sul (ou seria da zona sul do Rio de Janeiro? Não sei bem). No caso em questão, como nos EUA, a dita grande imprensa que circunda a candidatura do George Bush tupiniquim acusa o Presidente da República de não se comportar com apropriado decoro presidencial, ao tirar um bom sarro e trazer à tona, com bom humor, a melhor metáfora futebolística que poderia descrever a farsa. Sejamos honestos, a completa fabricação, desmascarada em verso, prosa e análise de vídeo, quadro a quadro, por um brilhante professor de jornalismo digital gaúcho.

Curiosamente, a mesma imprensa e seus arautos colunistas não tecem um único comentário sobre a gravidade do fato de ter um pretendente ao cargo máximo da República ter aceitado participar de uma clara e explicita fabricação. Ou será que esse detalhe não merece algumas mal traçadas linhas da imprensa? Caso ainda estivéssemos no meio de uma campanha tipicamente brasileira, o já internacionalmente famoso “atentado da bolinha de papel” seria motivo das mais variadas chacotas e piadas de botequim. Mas como estamos vivendo dentro de um verdadeiro clone das campanhas americanas, querem criminalizar até a bolinha de papel. Se a moda pega, só eu conheço pelo menos uns dez médicos brasileiros, extremamente famosos, antigos colegas de Colégio Bandeirantes e da Faculdade de Medicina da USP, que logo poderiam estar respondendo a processos por crimes hediondos, haja vista terem sido eles famosos terroristas do passado, que se valiam, não de uma, mas de uma verdadeira enxurrada, dessas armas de destruição em massa (de pulgas) para atingir professores menos avisados, que ousavam dar de costas para tais criminosos sem alma .

Valha-me Nossa Senhora da Aparecida — certamente o nosso George Bush tupiniquim aprovaria esse meu apelo aos céus –, nós, brasileiros, não merecemos ser a próxima vítima do entulho ético do marketing eleitoral americano. Nós merecemos algo muito melhor.  Pode parecer paranoia de neurocientista exilado, mas nos EUA eu testemunhei como os arautos dessa forma de fazer política, representado pelo George Bush original e seus asseclas,  conseguiram vender, com grande sucesso e fanfarra, uma guerra injustificável, que causou a morte de mais de 50 mil americanos e centenas de milhares de civis iraquianos inocentes.

Tudo começou com uma eleição roubada, decidida pela Corte Suprema. Tudo começou com uma campanha eleitoral baseada em falsas premissas e mentiras deslavadas. A seguir, o açodamento vergonhoso do medo paranóico, instilado numa população em choque, com a devida colaboração de uma mídia condescendente e vendida, foi suficiente para levar a maior potência do mundo a duas guerras imorais que culminaram, ironicamente, no maior terremoto econômico desde a quebra da bolsa de 1929.
Hoje os mesmos Republicanos que levaram o país a essas guerras irracionais e ao fundo do poço financeiro acusam o Presidente Obama de ser o responsável direto de todos os flagelos que assolam a sociedade americana, como o desemprego maciço, a perda das pensões e aposentadorias, a queda vertiginosa do valor dos imóveis e a completa insegurança sobre o que o futuro pode trazer, que surgiram como conseqüência imediata das duas catastróficas gestões de George Bush filho.

Enquanto no Brasil criam-se 200 mil empregos pro mês, nos EUA perdem-se 200 mil empregos a cada 30 dias. Confrontado com números como esses, muitos dos meus vizinhos em Chapel Hill adorariam receber um passaporte brasileiro ou mesmo um visto de trabalho temporário e mudar-se para esse nosso paraíso tropical. Eles sabem pelo menos isto: o mundo está mudando rapidamente e, logo, logo, no andar dessa carruagem, o verdadeiro primeiro mundo vai estar aqui, sob a luz do Cruzeiro do Sul!

Fica, pois, aqui o alerta de um brasileiro que testemunhou os eventos da recente história política americana em loco. Hoje é a farsa do atentado da bolinha de papel. Parece inofensivo. Motivo de pilhéria. Eu, como gato escaldado, que já viu esse filme repulsivo mais de uma vez, não ficaria tão tranqüilo, nem baixaria a guarda. Quem fabrica um atentado, quem se apega ou apela para questões de foro íntimo, como a crença religiosa (ou sua inexistência), como plataforma de campanha hoje, é o mesmo que, se eleito, se sentirá livre para pregar peças maiores, omitir fatos de maior relevância e governar sem a preocupação de dar satisfações aqueles que, iludidos, cometeram o deslize histórico de cair no mais terrível de todos os contos do vigário, aquele que nega a própria realidade que nos cerca.

Aliás, ocorre-me um último pensamento. A única forma do ex-presidente (Imperador?) Fernando Henrique Cardoso demonstrar que o seu governo não foi o maior desastre político-econômico, testemunhado por todo o continente americano, seria compará-lo, taco a taco, à catastrófica gestão de George Bush filho. Sendo assim, talvez o candidato Serra tenha raciocinado que, como a sua probabilidade de vitória era realmente baixa,  em último caso, ele poderia demonstrar a todo o Brasil quão melhor o governo FHC teria sido do que uma eventual presidência do George Bush genérico do hemisfério sul. Vão-se os anéis, sobram os dedos. Perdido por perdido, vamos salvar pelo menos um amigo. Se tal ato de solidariedade foi tramado dentro dos circuitos neurais do cérebro do candidato da oposição (truco!), só me restaria elogiá-lo por este repente de humildade e espírito cristão.

Ciente, num raro momento de contrição, de que algumas das minhas teorias possam ter causado um leve incômodo, ou mesmo, talvez, um passageiro mal-estar ao candidato, eu ousaria esticar um pouco do meu crédito junto a esse grande novo porta-voz do cristianismo e fazer um pequeno pedido, de cunho pessoal, formulado por um torcedor palmeirense anônimo, ao candidato da oposição. O pedido, mais do que singelo, seria o seguinte:

Candidato, será  que dá pro senhor pedir pro governador Goldman ou pro futuro governador Dr. Alckmin para eles não desligarem a luz da Arena Barueri na semana que vem? Como o senhor sabe, o nosso Verdão disputa uma vaguinha na semifinal da Copa Sulamericana e, aqui entre nós, não fica bem outro apagão ser mostrado para todo esse Brazilzão, iluminado pelo Luz para Todos, do Lula. Afinal de contas, se ocorrer outro vexame como esse, o povão vai começar a falar que se o senhor não consegue nem garantir a luz do estádio pro seu time do coração jogar, como é que pode ter a pretensão de prometer que vai ter luz para todo o resto desse país enorme? Depois, o senhor vem aqui e pergunta por que eu vou votar na Dilma? Parece abestalhado, sô!


* Miguel Nicolelis é um  dos mais importantes neurocientistas do mundo. É professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e criador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal, (RN). Em 2008, foi indicado ao Prêmio Nobel de Medicina.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Dilma ri da tragédia do Rio

 



Copiado do blog Escreva, Lola, Escreva

"O Jornal Nacional de sexta, dia 14 de janeiro, lá pelas 21 horas, cometeu uma manipulação grosseira. Eu não vi porque mal vejo TV, mas li reclamações aqui e ali (nenhum post em blog), e minha mãe veio me falar disso ontem. Parece que foi assim: o JN dedicou a maior parte de sua duração à tragédia causada pelas chuvas e aos delizamentos de terra no Rio. Foram longos minutos com muito choro, inclusive com muito sensasionalismo, com repórteres fazendo aquelas perguntas pertinentes de sempre: “Como você se sente ao ver sua família inteira morta?”. Um desespero só. Aí, no meio do nada, o JN corta pra falar de uma reunião ministerial de Dilma para aumentar o salário mínimo e para liberar dinheiro para as prefeituras atingidas pelas enchentes (veja aqui). No momento em que a narração em off da repórter começa a dizer “O problema com as enchentes ocupou boa parte da reunião ministerial”, a imagem que ocupa a tela passa a ser a presidenta gargalhando. Como se ela estivesse, obviamente, rindo da tragédia. Como se alguém pudesse rir de uma tragédia dessas.

"Pra quem acredita na velha ladainha da neutralidade dos telejornais, este exemplo (e é apenas um exemplo entre tantos outros) deveria servir pra mostrar que tudo é manipulação. A escolha dessa imagem, no meio de uma reportagem cheia de choro, contrasta com a cara de velório do apresentador e da repórter, e de tudo que veio antes e que virá a seguir no telejornal. E ela não está lá à toa. Ela quer passar uma mensagem: a de que Dilma é uma insensível, capaz de rir de 600 mortos. E também a de que um governo, de que o Estado, não faz nada além de rir da miséria alheia, enquanto a iniciativa privada é que realmente se preocupa com o povo, com suas campanhas de caridade à la Criança Esperança.

"Uma imagem dessas (risos no meio da tragédia) cairia mal a qualquer governante, até aos mais risonhos, como Lula. Mas em Dilma fica pior, e a Globo sabe disso. Quantas vezes, na campanha eleitoral, o JN selecionou alguma imagem de Dilma rindo? Vou chutar que nenhuma, porque uma Dilma gargalhante se chocaria contra o que a oposição dizia da candidata – que era durona, fria, mandona. Meio Greta Garbo, sabe? Greta, um dos ícones da história do cinema, nunca ria em seus filmes. E sua persona não era diferente: ela raramente aparecia sorrindo nas fotos. Daí que, pra divulgar a comédia Ninotchka, os produtores colocaram nos posters a chamada “Garbo laughs!” (Garbo ri!), como se fosse um fato inédito e de relevância mundial.

"É parecido com o que a Globo fez com a presidenta. Só faltou a legenda “Dilma laughs!”. Pois é, acabada a campanha, perdidas as eleições (para eles), a campanha continua. Ano passado tivemos o espetáculo das capas da Veja e sua atribuição relativa de culpa (a equação é simples; aprendam, crianças: enchente em SP é culpa da chuva, enchente no Rio é culpa do governo). Mal posso esperar algum desastre aéreo pra ver a risada da Dilma tomar novamente o Jornal Nacional."

 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/01/dilma-e-ministros-definem-que-valor-do-salario-minimo-sera-de-r-545.html


Blog da Cidadania faz queixa ao diário espanhol ‘El País’

 http://www.blogcidadania.com.br/2011/01/blog-da-cidadania-faz-queixa-ao-diario-espanhol-%E2%80%98el-pais%E2%80%99/

Comunico que às 11 horas do dia 17 de janeiro de 2011 entrei em contato telefônico com a Redação do diário espanhol “El País”, em Madrid, Espanha. A ligação foi feita para o telefone (34) 91 337 82 00. Após informar o assunto, a chamada foi transferida para o senhor Juan Carlos Sans, “jefe de la sección de internacional”.

O jornalista pareceu surpreso e um tanto quanto preocupado, sobretudo ao ouvir o teor da queixa que fiz em nome dos leitores deste blog. Formal e cortês, ouviu atentamente a minha argumentação – feita em bom espanhol, posso garantir.

Disse a ele que dói a milhares de brasileiros leitores deste blog – e, por conta do sentimento da sociedade brasileira, a dezenas de milhões de seus compatriotas – a artimanha da Globo para começar a guerra que, a exemplo da que fez contra o presidente Lula, deve começar a travar contra a sua sucessora.

Expliquei o que é a Globo, do ponto de vista de milhões de brasileiros, e que é inaceitável a conclusão que tirou o correspondente do El País no Brasil, Juan Arias – sediado no Rio de Janeiro –, de matéria da emissora carioca sobre a primeira reunião da presidente Dilma Rousseff com seu ministério, na semana passada.

Como todos sabem, a Globo fez o que o jornalista Luis Nassif chamou de “pegadinha”, ao induzir o público a crer que a presidente da República e seus ministros debocharam da tragédia nas serras fluminenses, com suas centenas de mortos em meio à mais dolorosa devastação.

Adotando um tom menos “seco”, o senhor Sans se prontificou a me dar dados para contatos com o “director de El País”, senhor Javier Moreno, com o “corresponsal” Juan Arias e com a “Ombudswoman”, ou “defensora del lector”, senhora Milagros Perez Olivar.

Pretendo ir até o fim dessa história, cobrando do El País postura responsável e ética em relação a uma conclusão do “corresponsal” Juan Arias sobre mera insinuação que fez a Globo para desmoralizar o novo governo, pois sua “leitura” daquela matéria comprova o que tantos, aqui no Brasil, concluíram.

Convido, pois, o leitor a dizer o que julga importante relatar ou considerar às instâncias às quais este blog se dirigirá, lembrando que a serenidade e a cortesia produzem melhores chances de se estabelecer uma discussão séria, em vez de mero bate-boca, pois só queremos que o El País diga a verdade ao mundo.

O peixe que Luciano Huck vende

Chupado do Esquerdopata
A exploração da tragédia: o caso Huck
Por O Escritor

A marota forma de ajuda de Luciano Huck

Sinceramente, não sei o que pensar sobre isso. Peço ajuda.

Luciano Huck é sócio do Peixe Urbano, um site de compras coletivas. Em dezembro último, o apresentador da Globo usou o Twitter para tentar bater o recorde de vendas de cupons no site:
"O apresentador Luciano Huck – agora sócio do site de compras coletivas Peixe Urbano - usou pela primeira vez o Twitter para impulsionar a venda de cupons de desconto – e quase conseguiu o que queria: superar o recorde de vendas do site."
http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/12/08/luciano-huck-ja-usa-o-twitter-para-vender-seu-peixe/
Ontem, ele postou esta mensagem no Twitter:
Luciano Huck
"Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita. http://pes.ca/gZ2Ibb"
http://twitter.com/#!/huckluciano/status/26377814122962944
A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes. Parece bonito, mas não é.

Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano.

Depois, é preciso se cadastrar no site. E então comprar um ou mais cupons de R$10,00.

Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente. Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs).

Sabe-se lá como será contabilizado ou fiscalizado o total recebido como doação e repassado para as duas organizações parceiras. O usuário não tem nem terá acesso a esses dados internos.

Supondo que todo o montante arrecadado chegue às vítimas, se for mesmo o que estou entendendo, trata-se da mais sórdida exploração da desgraça alheia que já presenciei em toda a minha vida.

As pessoas que estão doando seu dinheiro, seus produtos, seu tempo, suas habilidades e sua atenção aos desabrigados e às vítimas não estão pedindo nada por isso, não estão ganhando nada com seu gesto de solidariedade, não estão usando essa tragédia para obter nenhuma forma de lucro pessoal. Fazem o bem porque são humanas, ficaram chocadas com as imagens e as informações, se sensibilizaram com o sofrimento alheio. Ajudam por solidariedade, empatia e até por desespero.

E a maioria delas não tem quase nada na vida, em comparação com o apresentador da Globo.

De todas as iniciativas já divulgadas até o momento, só a de Luciano Huck visa primeiramente ao lucro pessoal, para depois, secundariamente, resultar numa ajuda social.

Quando um tsunami matou 200 mil pessoas no sudeste da Ásia, em 2004, recebi um e-mail de um escritor inglês pouco conhecido, no qual se fazia a oferta: "Compre um dos meus livros, e eu doarei 30% do valor para as vítimas da tragédia". Saí da lista do explorador barato na hora, mas a favor dele contava o número reduzido de destinatários da mensagem.

Luciano Huck tem 2.600.000 seguidores no Twitter: é este o público-alvo do seu apelo interesseiro. Pode não bater o recorde de cupons, desta vez, mas temo que tenha batido o recorde da safadeza. Aceito argumentos que me provem o equívoco dessa suspeita.

Depois dos R$24 milhões entregues pelo Estado à Fundação Roberto Marinho, dinheiro originalmente destinado à contenção de encostas e às obras de drenagem, mais esta. Turma da Globo, vocês pensam que estão apenas lucrando com as águas, mas na verdade podem estar brincando com fogo.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

PM de SP desce o sarrafo em estudantes e trabalhadores

Era um protesto contra o aumento do preço das passagens de ônibus. Custa R$ 3,00 e é a mais cara do país...

Sem terem provocado, meia dúzia de estudantes tomam bala de borracha nas costas..

Queria ver a briosa Polícia Militar de SP ter o mesmo desprendimento para enfrentar o PCC..

Aí não.. aí PM se borra de medo dos bandidos de verdade: PCC e políticos tucanos..


Investigadores alarmados com declínio das abelhas

 

Quatro espécies de abelhas, anteriormente consideradas como abundantes, estão quase a desaparecer nos Estados Unidos. Estas abelhas, tão importantes para a agricultura, estão a ser afectadas a nível mundial.
O grupo de cientistas que está a estudar o caso referiu que há uma redução de 96% no número de abelhas nas quatros espécies. A presença de organismos patogénicos, como acontece nas abelhas do mel, e a endogamia causada pela perda do habitat, são as principais causas deste desaparecimento.

“Fornecemos provas irrefutáveis de que várias espécies do género Bombus sofreram acentuado declínio da população a nível nacional", afirmaram os pesquisadores na revista Proceedings, da Academia Nacional das Ciências, classificando os resultados como "alarmantes.”

Sydney Cameron, da Universidade do Illinois, liderou o estudo. “Estes são os polinizadores mais importantes das plantas nativas”, refere. Estas abelhas estão normalmente associadas aos prados e à vegetação existente em grandes altitudes. Também polinizam tomates, mirtilos e groselhas.

Recentemente, especialistas documentaram o Distúrbio do Colapso das Colónias, um fenómeno que leva ao desaparecimento das abelhas e que tem origem em vários factores como parasitas, fungos, stress, pesticidas e vírus. Mas a maioria dos estudos que investigaram este fenómeno focaram-se apenas nas abelhas do mel.
Contudo, as abelhas para além de produzirem mel são também importantes polinizadores. “ [As abelhas] aterram nas flores e apresentam um comportamento chamado polinização por vibração que permite que o pólen voe para fora da flor”, sublinha Cameron.

Cameron e a sua equipa realizaram um estudo de três anos, a 382 locais distribuídos por 40 estados e analisaram mais de 73 mil registos de museus. “Mostrámos que a abundância relativa das quatro espécies foi reduzida em cerca de 96% e que os seus limites geográficos foram contraídos de 23 a 87%”.

Cameron sublinhou na apresentação do estudo que "esta é uma situação à qual os especialistas têm de estar atentos."

Fonte: www.reuters.com

Foto oficial da Presidenta Dilma

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Brasil já não abre as pernas como antes .. Toma Império Britânico!!!

Do Caciquismo, ótimo blog de Brasília





Não vivemos em uma republiqueta como outrora.

Aquela que era rota unanime na fuga dos vilões do cinema.

Que servia como porto dos prazeres para marinheiros de forças militares estrangeiras.

Em miúdos. Acabou a farra na casa da mãe Joana.

Hoje o Brasil negou a um navio militar da Grã-Bretanha o pedido de ancoragem no Rio (notícia).

Motivo: tal navio seguia rumo às ilhas Malvinas.

Enganam-se quem enxergou nesta medida apenas um ato de apoio ao país possuidor do segundo melhor jogador de futebol de todos os tempos.

A decisão do governo Dilma fortalece o que o gênio Chico Buarque resumiu durante a campanha eleitoral de 2010: O Brasil não fala fino com os EUA e nem grosso com a Bolívia!

O Brasil foi neutro durante a guerra das Malvinas.

A ilha é motivo de conflito entre dois países mesmo após o fim da guerra.

O Brasil mantém relações diplomáticas com ambos os envolvidos.

Existiria, portanto, motivo razoável para que o Brasil desse abrigo a um navio militar destinado a manter ocupado território que nuestros hermanos reivindicam como seu?

Só para os tupiniquins adoradores do declinante ex-primeiro-mundo.

Novos tempos no posicionamento internacional do Brasil.

Um país verdadeiramente respeitado em todo o mundo. Sua atual política internacional é um sucesso ovacionado pela mídia em todo o planeta. Menos no Brasil do PIG, é claro.

E sabe por que esse assunto passou como um relâmpago pelo noticiário? Simples, a poderosa rainha respeitou, sem reservas, a decisão brasileira.

Chupa PIG!!!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Herança maldita (FHC) e herança bendita (Lula) para Dilma



Em seu discurso de posse, a petista Dilma Rousseff fez elogios ao presidente Lula e prestou uma homenagem ao vice José de AlencarDe FHC para Lula








De Lula para Dilma






O mito da herança bendita

A situação econômica do Brasil no final de 2002 era extremamente frágil. O crescimento do PIB era lento e a inflação tinha atingido dois dígitos e estava acelerando.

Durante a campanha presidencial daquele ano o Brasil foi alvo de um forte ataque especulativo na forma de redução nas linhas de financiamento externo para o país, aumento no prêmio de risco exigido por credores para adquirir títulos brasileiros e forte depreciação do real:

·        O risco país aumentou de 963 pontos básicos (pb) , em dezembro de 2001, para 1.460 pb, em dezembro de 2002.  

·        No mesmo período a taxa de câmbio real/dólar norte americano subiu de 2,32 para 3,53, uma depreciação nominal de 52%.

·        A entrada líquida de capital externo caiu de US$ 27 bilhões, em 2001, para US$ 8 bilhões, em 2002.

·        As reservas internacionais do Brasil eram de apenas US$ 37,8 bilhões, dos quais US$ 20,8 bilhões correspondiam a um empréstimo junto ao FMI.  

·        A dívida líquida do setor público subiu de 52,2% do PIB, no final de 2001, para 60,6% do PIB, no final de 2002. 

·        A inflação ao consumidor acelerou de 7,7% ao ano, em 2001, para 12,5% ao ano em 2002.

·        E, com o fim do racionamento de energia, o crescimento da economia aumentou de 1,3% em 2001 para 2,7% em 2002.

O mito da continuidade da política econômica
O governo Lula manteve a política macroeconômica baseada no sistema de metas de inflação, metas de superávit primário e câmbio flutuante. Houve continuidade neste arcabouço institucional, mas a condução da política macroeconômica mudou bastante no governo Lula, com a adição de novas metas e prioridades. 

·        Em contraste com o governo anterior que estabeleceu uma rápida redução nas metas de inflação, de 9% em 1999 para 3,5% em 2002, o governo Lula adotou uma postura gradualista. As metas de inflação caíram mais lentamente e isso contribuiu para a aceleração no crescimento do PIB e a redução na taxa real de juro da economia.

·        Na política cambial o governo Lula manteve o câmbio flutuante, mas acumulou um grande estoque de reservas internacionais. No governo anterior, o Banco Central sempre operou com um baixo volume de reservas internacionais.
·        Na política fiscal o governo Lula manteve a política de metas de resultado primário, mas reorientou as prioridades do orçamento público para aumentar o combate à pobreza e à desigualdade, recuperar o investimento público em infra-estrutura e em educação. Com isto, houve uma redução substancial na dívida líquida do setor público, de 60,6% do PIB em 2002, para 41,5% do PIB em 2010.

O mito do gasto público excessivo
Segundo analistas a expansão excessiva do gasto público seria incompatível com o crescimento da economia, pois ela exige uma taxa de juro mais elevada e inibe o investimento privado. Além disso, para tais analistas o aumento no gasto primário da União também seria ruim por que o Estado é sempre e em qualquer lugar mais ineficiente do que o setor privado.

Quando nós olhamos para os resultados objetivos, o quadro é bem diferente do retratado pelos críticos da política fiscal do governo Lula:
-         o crescimento do PIB acelerou ao invés de desacelerar
-         o crescimento da produtividade também acelerou e a inflação continuou a cair
-         a taxa real de juro também caiu, de 16% ao ano no início de 2003 para 6% ao ano no final de 2010.
Além disto, é importante verificar para onde foram este aumento de gastos.
·        A despesa primária da União aumentou de 15,7% do PIB em 2002 para 18,6% do PIB em 2010, uma elevação de 2,9 pp do PIB. A maior parte de aumento foi para:
o   transferências de renda às famílias, que aumentaram de 6,8% do PIB em 2002 para 9,0% do PIB em 2010, uma elevação de 2,2 pp do PIB.
o    investimento da União, que  aumentou de 0,8% do PIB em 2002 para 1,2% do PIB em 2010, uma elevação de 0,4 pp do PIB.
o   demais despesas primárias subiram de 8,1% do PIB em 2002 para 8,3% do PIB em 2010, a maior parte para a educação.
·        A despesa da União com a folha de pagamentos ficou relativamente estável e passou de 4,8% do PIB em 2002 para 4,7% em 2010.  Isto ocorreu apesar do aumento na contratação de 150 mil funcionários públicos e da recuperação nos salários do funcionalismo.

Portanto, a prioridade da política fiscal do governo Lula foi combater a pobreza e a desigualdade através do aumento nas transferências de renda. Esse aumento deu o impulso inicial para o atual ciclo de desenvolvimento baseado na expansão do mercado interno.  Ao final do governo Lula, com a recuperação do nível de funcionários, o governo federal gastou um valor praticamente igual ao verificado em 2002, em termos do tamanho da economia. 

O mito da carga tributária excessiva
Segundo analistas, o aumento na carga tributária causa ineficiências, prejudica o crescimento da economia e aumenta a informalidade.
Os números dos últimos anos apontam para a aceleração do crescimento do PIB e da produtividade, da formalização das empresas e dos empregos e dos lucros e  salários.
O aumento não foi explosivo. Ao contrário, foi menor do que no governo anterior.
·        Em 2009 a carga tributária do Brasil foi equivalente a 33,6% do PIB devido à crise econômica. Em 2010 a carga tributária total do Brasil deve atingir 35% do PIB.
·        Dos 35% do PIB, o governo federal arrecada diretamente 24% do PIB. O restante vem de estados e municípios.
·        De 1998 a 2002, arrecadação do governo federal passou de 19,9% do PIB para 22,2% do PIB em 2002, aumento de 3,3 pp do PIB em 4 anos.
·        No governo Lula, a arrecadação passou de 22,2% do PIB em 2002 para 24,0% do PIB em 2010, aumento de 1,8 pp do PIB ao longo de oito anos.
·        Este aumento foi preponderantemente resultado do bom desempenho da economia e da maior formalização das empresas e do mercado de trabalho.
·        O ganho de arrecadação foi devolvido à sociedade na forma de transferências de renda. Excluindo-se do cálculo as transferências constitucionais da União aos Estados e Municípios e as transferências de renda às famílias, a receita efetivamente disponível para União passou de 11,0% do PIB em 2002 para 10,9% do PIB em 2010.
O mito da taxa de investimento
Apesar do aumento no investimento por parte da União aumentou em 50% em termos do PIB, de 0,8% em 2002 para 1,2% em 2010, alguns analistas argumentam que o investimento da União ainda é baixo, sobretudo quando comparado com outros países ou com o próprio Brasil no passado. 
·        A maior parte do incentivo do governo federal ao investimento ocorre via incentivos tributários e financeiros ao invés de despesas diretas no orçamento geral da União. Neste sentido, o principal critério para julgar a política do governo deve ser a taxa de investimento total da economia.
·        Durante o governo FHC houve retração no investimento: a taxa de investimento foi de 17,4% do PIB no primeiro mandato (1995-98) e 16,9% do PIB no segundo mandato (1999-02).
·        Durante o governo Lula a taxa de investimento foi de 16,9% do PIB no primeiro mandato (2003-06) e de 18,2% do PIB no segundo mandato (2007-10). O governo Lula aumentou substancialmente o investimento após o lançamento do PAC.
·        Considerando apenas 2010, a taxa de investimento deve atingir 19% do PIB, ou seja, nesse quesito o PAC foi um sucesso.
Considerando apenas o investimento público, também é preciso ressaltar alguns pontos que desacreditam as críticas usuais feitas ao governo Lula neste campo.
·        Comparar o investimento público de hoje com o investimento público realizado nos anos 70 é incorreto, pois naquela época grande parte das obras de infra-estrutura era realizada diretamente pela União, enquanto que agora os gastos são realizados pelo setor privado na forma de concessões (hidroelétricas, rodovias, ferrovias, etc).
·        Com relação às estatais, o mais correto é comparar os investimentos das empresas que permaneceram estatais desde 1970 (devido às privatizações) e, neste caso, os resultados do governo Lula são altamente positivos devido ao crescimento dos investimentos da Petrobras.
·        Em números, o investimento da Petrobras passou de 0,9% do PIB em 2002 para 2,1% do PIB em 2010, uma expansão de 1,2 pp do PIB ao longo do governo Lula. Considerando apenas 2010, a Petrobras será responsável diretamente por 11% de todo o investimento realizado no Brasil.

O mito do abandono das reformas institucionais
No início de seu mandato, o Presidente Lula enviou ao Congresso Nacional uma proposta de reforma na previdência do servidor público e uma proposta de mini-reforma tributária, com modificação na sistemática de arrecadação do PIS/COFINS e prorrogação da DRU e da CPMF.
As duas iniciativas foram aprovadas e contribuíram para a sustentação do crescimento econômico nos anos subseqüentes. Nos anos seguintes, o governo Lula empreendeu uma série de reformas nas leis e na regulação dos mercados, mas que não receberam destaque na mídia devido ao seu baixo impacto no curto prazo. Assim, criou-se um mito de que o governo Lula abandonou a agenda de reformas, sobretudo nos últimos quatro anos (ver relação em anexo)
Nos pontos onde não houve avanço, com destaque para a reforma tributária e para a reforma da previdência social, o problema foi mais a falta de consenso da sociedade sobre temas do que a ausência de propostas por parte do governo federal.

ANEXO

ECONOMIA: Medidas para melhorar ambiente de negócios:

·        Reforma da previdência do servidor público, aprovada em 2003, com instituição da idade mínima e contribuição de 20% por parte dos inativos. Esta reforma estabilizou o déficit da previdência do servidor público em % do PIB.
·        Nova lei de falências, aprovada em 2004, que agilizou a solução de problemas para empresas em dificuldades e reduziu o custo de inadimplência.
·        Patrimônio de afetação, aprovado em 2005, que diminui o custo de empreendimentos imobiliários e estimulou o investimento na construção de residências.
·        Desoneração dos impostos federais sobre computadores, aprovada em 2005, que aumentou a formalização do mercado, barateou os produtos e ampliou o acesso da população à tecnologia de informação e comunicação.
·        Nova Lei da MPMEs, com criação do Supersimples, aprovado em 2007, que possibilitou a formalização de pequenos negócios e aumentou a arrecadação do governo.
·        Ampla renegociação das dívidas agrícolas, aprovada em 2007, que possibilitou a quitação de débitos anteriores com descontos, sobretudo para pequenos produtores, e retirou milhares de produtores rurais da inadimplência.
·        Devolução mais rápida dos créditos tributários acumulados por investimentos, aprovada em 2007, que diminui o custo financeiro das empresas e estimulou a ampliação da capacidade produtiva.
·        Regime tributário especial para infra-estrutura (REIDI), aprovado em 2007, que desonerou as obras prioritárias do PAC.
·        Fim da cobertura cambial, aprovada em 2007, que desobrigou os exportadores de internalizarem suas receitas cambiais e, desta forma, reduziu os custos financeiros da exportação.
·        Regulação das tarifas bancárias, em 2007, e das tarifas de cartões de crédito, em 2009, que aumentaram a transparências do mercado e deram mais poderes aos consumidores.
·        Regulação dos sistemas de pagamentos em financiamentos imobiliários, aprovada em 2009, que eliminou incerteza jurídica em novos contratos habitacionais e estimulou o desenvolvimento do crédito imobiliário.
·        Regime especial de tributação para a construção de habitações populares, aprovada em 2009, que reduziu a tributação indireta sobre firmas de construção e barateou habitações para famílias de menor renda.
·        Nova lei do gás, aprovada em 2009, que regulamentou o acesso a rede de transporte e distribuição de gás, de modo a atrair novos investimentos e evitar práticas que limitem a concorrência.
·        Margem de preferência em compras governamentais, aprovada em 2010, que possibilita a utilização das compras públicas como instrumento de desenvolvimento econômico e tecnológico, com transparência e prestação de contas.
·        Devolução mais rápida dos créditos tributários acumulados por exportações, iniciada em 2010, que diminuirá o custo financeiro das empresas exportadoras.
·                    Desenvolvimento do mercado de capitais, com criação de novos instrumentos e incentivos tributários para títulos de longo prazo e para o financiamento de infra-estrutura, iniciada ao longo de 2010, que possibilitará maior participação do mercado no financiamento do investimento.