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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Os jornais, a democracia e a ditadura do mercado – a cobertura das eleições presidenciais de 2002 - Inês Nassif


Este ansioso blogueiro considera Maria Inês Nassif a melhor analista de política de um jornal do PiG (*).

Surpreendentemente, ela sobreviveu à ofensiva do Padim Pade Cerra e sobreviveu no Valor (que, como se sabe, é controlado pela Folha (**) e pelo Globo).

Como se sabe, este ansioso blogueiro considera Cerra o nosso Putin.

Putin lidera um Governo em que, por coincidência, jornalistas de oposição costumam aparecer com a boca cheia de formiga em ruas de Moscou.

Além do mais, Inês é uma estudiosa do PiG.

Em 2005, ela obteve o título de Mestre em Ciências Sociais, na área de Ciência Política, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Com a dissertação “Os jornais, a democracia e a ditadura do mercado – a cobertura das eleições presidenciais de 2002.”

Com a agudeza de um médico legista – afinal, trata-se de um cadáver insepulto, o PiG -  ela mostra como a Folha (**) e o Estadão trabalharam para eleger Cerra em 2002 e ajudar os bancos.

E o que é igualmente sinistro, operavam o “mercado” – aquele da “mão invisível” – em benefício dos “mercadores” e do Cerra.

O PiG jogou o jogo da especulação financeira que os banqueiros instalaram no Brasil com a ameaça da eleição do Presidente Nunca Dantes.

Inês trata com especial atenção (pág. 184) uma histórica entrevista que colonista (***) da Folha, Clovis Rossi, fez, no dia 8 de junho de 2002, com George Soros.

(Soros tinha sido o patrão do presidente do Banco Central da época, Arminio Fraga, quindim de Iaiá do PiG).

O notável financista fazia previsões apocalípticas: o Brasil estava condenado a eleger Serra ou mergulhar no caos.

Rossi esclarecia: “Não se trata desta vez, apenas, da habitual má vontade do mundo financeiro em relação a Lula e ao PT. É muito pior: trata-se de uma análise fria de como se mexem as engrenagens do capitalismo financeiro global, de que Soros não é apenas perito, mas também um ativo agente.”

“Se Serra ganhasse a eleição, afirmou (Soros), a situação mudaria, porque ‘o capitalismo global não se arriscaria a inviabilizar o melhor aluno do modelo econômico hegemônico (Serra)’.”

E concluiu Soros, nessa histórica reportagem da Folha: “Na Roma antiga só votavam os romanos. No capitalismo global moderno, só votam os americanos, os brasileiros não votam”.

Memorável.

Rossi foi testemunha da História.

Inês utiliza essa reportagem para mostrar, de forma conspícua, como os colonistas da Folha e do Estadão desempenharam “o papel de intelectuais orgânicos do capital financeiro internacional … na formação de uma hegemonia ideológica fundamentalista pró-mercado e no questionamento do papel do Estado – aqui, o moderno era a redução ao Estado Mínimo, que exerceria o papel regulador da economia”.

Inês mostra como o PiG disseminou o pânico, o que teve o efeito de provocar “um rápido deslocamento do dinheiro do país, em função do ataque especulativo ao Real, e rápidos deslocamentos de dinheiro entre particulares … Os jornais, portanto, foram instrumento da acumulação do capital financeiro … a informação passa a ser um instrumento da acumulação … intelectuais orgânicos (os colonistas do PiG – PHA) alimentam as mesas de operação … O boato e a especulação acabam tornando-se fatos.”

Os dois jornais – Folha e Estadão – jogaram o “jogo declaratório”, da informação sem contexto, irresponsável, não confirmada, não checada.

O jornalismo do “disse que”.

O economista do banco tal “diz que …”; o ex-diretor do FMI; o sub-do-sub da Secretaria do Tesouro americano.

Todos eles dizem que haveria o caos se Lula fosse eleito – o PiG e eles são cadeia de transmissão do pânico.

E as mesas dos bancos se enchem de dinheiro.

(O André Esteves, que acaba de comprar o PanAmericano, poderia dar um interessante testemunho sobre como o Banco Pactual “sofreu” com a eleição do Lula em 2002.)

E o Cerra “subia” nas pesquisas (na margem de erro, na verdade).

A Folha, segundo Inês, é especialista em “sensacionalização da declaração”.

O Estadão é mais despudorado: “a opção ideológica e partidária do jornal invadiu a informação, principalmente na economia.”

O PiG venceu ?

Não, Lula ganhou.

O “pânico” derrotou os operadores e os colonistas.

Mas, o PiG venceu, também, diz a Inês.

Lula oficializou a candidatura em 29 de junho de 2002.

Antes, no dia 22, lançou a “Carta ao Povo brasileiro”, “adequando-se às exigências do mercado”, diz Inês.

Ou seja, o PiG venceu: nomeou Tony Palocci Ministro da Fazenda (diz este ansioso blogueiro).

Inês faz uma pincelada sobre a eleição de 2006, aquela que Ali Kamel levou para o segundo turno – clique aqui para ler “O Golpe do primeiro turno já houve. Falta o do segundo turno”.

Em 2006, Lula não poderia ser mais o bicho papão do mercado.

O PiG jogou então a carta do preconceito social.

Lula era o candidato dos pobres, da Bolsa Vagabundagem (segundo a opinião de uma especialista em abortos, no Chile), dos nordestinos.

“O corte ideológico (em 2006) foi fundamentalmente social”.

Conclui Inês: “ … o momento zero, em que os jornais se assumiram claramente como intelectuais orgânicos foi o da eleição de 2002”.

Como diz esse ansioso blogueiro: o que seria dos tucanos de São Paulo não fosse o PiG, hein, Inês ?

Não passavam de Resende.

Em tempo: por que a editora Publifolha não publica a tese da Inês. E a Companhia das Letras ?


Paulo Henrique Amorim

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