“Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.”
Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador da Copa de 2014, quebrou o silêncio. O cartola que domina o futebol brasileiro passou cerca de uma semana na Suíça com uma repórter da revista Piauí e dissertou sobre diversos temas. No meio da longa reportagem, publicada na edição de julho, ele expõe a relação que tem com a Globo, xinga os críticos e promete maldades com a imprensa no Mundial que comandará, daqui a três anos.
As declarações de Ricardo Teixeira foram registradas no início de junho, quando a Fifa estava mergulhada em uma crise histórica e tentando reeleger Joseph Blatter. O cartola brasileiro era um dos maiores alvos das denúncias de corrupção. As acusações iam desde de propinas supostamente recebidas ainda na década de 1990 até uma tentativa de venda de voto no processo de escolha das sedes das próximas Copas.
Meu amor, já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da seleção, a CPI da Nike e a do Futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas m...”, disse Ricardo Teixeira, que vai ainda mais longe ao rebater as denúncias.
“Não ligo. Aliás, caguei. Caguei montão. O neguinho do Harlem [bairro pobre nova-iorquino] olha para o carrão do branco e fala: ‘quero um igual’. O negro não quer que o branco se f... e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria”, vaticinou.
Nem todos da imprensa, no entanto, são vistos assim. Em determinado momento, a reportagem reconstroi uma conversa de Ricardo Teixeira com um representante da Match, empresa parceira da Fifa para logística no país da Copa. Pouco antes de uma entrevista do dirigente para a Globo, o interlocutor pergunta ao cartola se temas espinhosos, como o preço de hoteis e restaurantes no Brasil, seriam citados.
“Não vai ter isso não, está tudo sob controle”, respondeu Teixeira. Em outro momento, é citada uma conversa por telefone com Evandro Guimarães, lobista da emissora em Brasília, sobre investimentos do dirigente em fazendas no Rio de Janeiro.
Seus momentos de confronto com a TV carioca também vieram à tona. Em 2001, a Globo dedicou uma edição do Globo Repórter a Ricardo Teixeira. A resposta do dirigente foi uma mudança repentina no horário de um Brasil x Argentina, que fez a emissora perder muito dinheiro sem poder exibir seus patrocinadores em horário nobre.
“Pegava duas novelas e o Jornal Nacional. Você sabe o que é isso?”, disse o cartola, que vê pontos positivos no fato de ser alvo do mesmo tipo de matéria, hoje elaborada pela Record. “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito com a Globo”, avaliou.
Ricardo Teixeira, que classifica a imprensa brasileira como “vagabunda”, ainda ameaça. “Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou”, concluiu o cartola, referindo-se à sua tentativa de migrar para a presidência da Fifa após a Copa do Mundo.
Filha revela que Teixeira votaria contra Blatter
Durante um almoço, segundo a revista Piauí, Teixeira disse que sempre apoiou Blatter na eleição da Fifa. Antônia, sua filha de 11 anos, rebateu: “Ué, mas você não quer o Bin Hamman [opositor de Blatter]?”.
Segundo a reportagem, o cartola, por baixo da mesa, beliscou a filha, que reclamou: “Ai pai!”. Depois de minutos de silêncio e uma troca de mensagens com a mãe, Antônia pediu desculpas à repórter.
Frases de Ricardo Teixeira
“Caguei montão [para as denúncias da imprensa]. O neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala: ‘Quero um igual’. O negro não quer que o branco se f... e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria.”
“Em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.”
“Esse UOL só dá traço. Quem lê o Lance? Oitenta mil pessoas? Traço. Quem vê essa ESPN? Traço.”
“Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”
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