Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:
Desde quarta-feira, 24 de agosto, quando Gustavo Nogueira Ribeiro, repórter da Veja, foi flagrado pela camareira, tentando invadir o apartamento de José Dirceu no Hotel Naoum, em Brasília, era previsível que mais uma “aula” de jornalismo esgoto estava a caminho. Não deu outra. Com capa e tudo.
Tirado do Blog do Miro
Com a manchete “José Dirceu mostra que ainda manda em Brasília”, Veja chegou este final de semana às bancas. Logo no olho diz: “Com ‘gabinete’ instalado em um hotel, ex-ministro recebe autoridades da República para, entre outras atividades, conspirar contra o governo Dilma”.
A matéria traz uma sequência de dez fotos, provavelmente extraídas da câmera de segurança, tiradas do andar em que fica o apartamento de José Dirceu. Numa delas, aparece o próprio. Nas demais, ministros, deputados, senadores que lá estiveram.
Entre eles, o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP), que, aparentemente, está acompanhado de duas pessoas, cujos rostos foram disfarçados pela revista para não serem reconhecidos. Legenda da foto:
07/6/2011 – 20:22:42 – Duração: 25 minutos | Deputado Devanir Ribeiro, PT: “Faz muito tempo que eu não vejo o Zé Dirceu. Nem lembro quando foi a última vez” – Reprodução/Veja
No início da noite desse sábado, conversei com Devanir: “Eu não li ainda a matéria. Encontrei hoje o Vacarezza [deputado federal Cândido Vacarezza, líder do governo na Câmara] num debate, ele me falou. Eu não leio, não compro, não recomendo e não dou entrevista à Veja há vários anos”.
Pedi-lhe para abrir uma exceção, para comentar o que foi publicado. Topou. Como havíamos combinado, voltei a ligar no final da noite desse sábado. Devanir foi logo dizendo:
“Que matéria mais besta? Francamente não sei o que estão querendo com ela. Intrigar o Zé com a Dilma? Jogar a Dilma contra o Zé? Besteira! Dizer que o pessoal do PT frequenta o Naoum?! Vários parlamentares do PT que não têm apartamento funcional ficavam e ficam lá hospedados. Que o Zé faz política, qual a novidade?! É um direito dele. O Zé é um cidadão brasileiro, militante político e dirigente partidário. É um quadro importante do PT que fez parte das lutas democráticas do Brasil nas últimas décadas. É uma pessoa que eu respeito”.
Segundo a Veja, o senhor disse que faz tempo que não vê o José Dirceu e nem se lembrava de quando tinha sido a última vez que o tinha encontrado. Diz também que o senhor teria estado no apartamento do José Dirceu em 7 de junho. É isso mesmo que aconteceu?
Primeiro, gostaria repetir. Vários parlamentares do PT ficavam e ficam no Naoum. De modo que, de vez em quando, eu vou até lá, sim, para encontrar algum companheiro.
Segundo, eu fui ao Naoum aquele dia — não sei se em 7 de junho como afirma a Veja — para buscar alguns companheiros do Pará e levar para uma reunião que iria acontecer em seguida na minha casa. Ao chegar na portaria, liguei para um deles, que pediu para eu subir. O Zé atendeu, cumprimentei-o, ele estava atendendo umas ligações, conversamos um pouco e fomos embora.
Eu não tinha nenhuma audiência marcada com o Zé Dirceu. E se tivesse, assumiria. Qual o problema? Nenhum. Sou político, tenho de fazer política. O Zé, a mesma coisa.
E essa história de que o senhor não se lembrava de ter o encontrado o José Dirceu?
Veja bem. O Zé é dirigente partidário, logo a gente vive se cruzando em reuniões do PT, assim como com os demais companheiros do PT.
Como eu não havia solicitado audiência ao Zé Dirceu, eu, na hora, inicialmente, não me lembrei que tinha passado pelo Naoum, pra pegar o pessoal.
Então o que disse para o jornalista?
Tem uma coisa importante que eu quero esclarecer. Há alguns dias um repórter da Veja me ligou, querendo marcar um horário para conversar comigo. Eu disse NÃO. Disse o que já disse a você: que não lia, não assinava, não recomendava nem dava para a Veja em função do péssimo jornalismo que ela faz. Acrescentei ainda que estava processando a Veja.
O repórter disse: “Ah, mas eu sou novo!”.
Eu contrapus: “Você é novo, mas a revista é velha”.
A coisa morreu aí. Só que num outro dia outro repórter me ligou, perguntando se eu não achava estranho o Zé Dirceu receber um monte de gente em Brasília.Respondi que achava normal, já que o Zé conhece muita gente. Aí, ele me perguntou quando tinha sido a última vez que eu tinha encontrado o Zé. Inicialmente, respondi: “Eu não me lembro”. Mas, em seguida, falei: “Foi no Rio de Janeiro há uns 15 dias na reunião do diretório nacional do PT.
Mas o repórter não citou o Rio de Janeiro na legenda da foto…
Eu disse, mas ele colocou só o começo da minha fala.
Esse segundo repórter se identificou como da Veja?
Não! Se tivesse dito, não teria respondido nada.
O senhor lembra o nome dos dois repórteres que lhe telefonaram?
Não. Não, mesmo. Mas são jornalistas que eu nunca ouvi falar o nome.
O senhor está processando a Veja. Por quê?
Na época do dito “mensalão”, que nunca existiu, saiu publicado que uma funcionária minha, Maria Aparecida da Silva, tinha ido ao Banco Rural e sacado dinheiro.
Na época, o meu advogado pesquisando na internet percebeu que o número de dígitos da carteira de identidade da Maria Aparecida envolvida não batia com o que temos em São Paulo. Aí, descobriu que não tinha nada a ver com a minha secretária. Foi a minha sorte.
Aliás, no Brasil, o que não falta é Maria Aparecida da Silva (risos), concorda?
A Globo se retratou. A Veja, não. Eu resolvi processá-la, pois como diz o meu advogado: “Se você é acusado injustamente e fica quieto, é como se admitisse a culpa. Por isso tem de processar, mesmo. Se você não processar, vão dizer que você é culpado”. Então processei. Não desisto.
Não importa o tempo que demorar. Estou fazendo uma poupança para os meus netos. A Veja não se emenda. Não está preocupada com a verdade. Aliás, o jornalismo brasileiro está cada vez pior. Aonde vamos parar com esse jornalismo tão podre, tão mentiroso, tão malfeito?
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